Alguns chefes relutam em admitir que são eles mesmos os responsáveis
pelo mau desempenho e comportamentos indesejados de seus subordinados. A causa pode
estar relacionada à falta de habilidades de liderança, como comunicação,
dinâmica das equipes e fatores influenciadores da motivação. Contudo, há uma
razão fundamental explicada por estudos clássicos que começam desde a mitologia,
com o chamado Efeito Pigmaleão, descrito pelo poeta romano Ovídio, aos mais
recentes como os do sociólogo Merton, avaliando fenômenos antropológicos, ou dos
psicólogos Rosenthal e Jacobson em pesquisas sobre como as expectativas dos
professores afetavam o desempenho dos alunos. Kant já considerava a
relatividade do que é verdade, pois
sempre o fato observado será filtrado pelas crenças e traduzido em conhecimento
dependendo dos julgamentos que fizermos dele.
Imaginemos um empregado chefe de família, honesto,
responsável, atento ao desempenho escolar de seus filhos, salda as prestações
do crediário em dia, preocupa-se com a saúde dos familiares, ajuda seus vizinhos
nas dificuldades, frequenta a faculdade noturna para desenvolver sua
empregabilidade. Por que seu chefe o controla como se fosse exatamente o
contrário? Incapaz, não criativo, somente se dedicando ao seu trabalho com medo
de punições ou estimulado por bônus, conforto e segurança?
Fosse qual fosse o campo dos estudos, poetas, sociólogos,
psicólogos e filósofos, concluíram que um
prognóstico, ao se tornar uma crença,
provoca a própria concretização. Professores que não acreditam na capacidade de
aprender de seus alunos, não os desafiam, afrouxam suas aulas, são
displicentes e condescendentes nas avaliações. O fenômeno é chamado de profecia autorrealizável.
Não é complicado, o chefe vê o fato – o empregado cometeu um
erro – mas o julgamento sobre o caráter deste empregado, não será da observação
da realidade concreta, mas da percepção formada pelas crenças que tem sobre
aquele empregado, ou, pior, sobre como ele acredita que são os tipos de
pessoas, sejam jovens ou velhos, mulheres, origem, formação. Mais perigosos são
preconceitos de raça, orientação sexual, religião etc. A partir destas percepções,
o chefe age não sobre o fato concreto – erro cometido – mas sobre seu julgamento.
Em curto prazo, ensinará seus subordinados a agirem de acordo com sua crença. A
profecia se realiza e as crenças são reforçadas.
Douglas McGregor, um dos mais importantes pesquisadores
sobre o comportamento humano na empresa, refletia irônico: “deve existir algo
macabro na portaria das empresas que transforma boas pessoas em maus empregados”.
Este algo macabro não está na portaria das empresas, está na lente com que os
chefes olham seus subordinados. São
bastante comentadas nos programas de desenvolvimento de lideranças as crenças
chamadas de Lente X e Lente Y.
Quando o chefe tem uma Lente X,
acredita que seus subordinados têm aversão natural ao trabalho e precisam ser
coagidos e ameaçados de punição para que se esforcem, portanto decidirá com
mais controles e rédeas curtas. Terá subordinados que confirmarão sua profecia.
Se tiver uma Lente Y, acredita que é possível integrar os objetivos individuais
aos objetivos empresariais desde que dê significado ao trabalho dos
subordinados. Age propondo desafios inerentes ao trabalho, fortalece o
autocontrole, dá oportunidades para que exerçam responsabilidades, estimula a
criatividade e a engenhosidade na solução dos problemas.
Agora também a
profecia se autorrealizará!
No livro CHEFIAR, SIMPLES ASSIM! Capítulo 2 – Percepção e lentes gerenciais, Qualitymark (Páginas 15 a 23) o tema é estendido e são
apresentados casos e exemplos.
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