Lideres de mudança e os pernilongos no campo de nudismo

Dois pernilongos sobrevoavam um campo de nudismos e um disse para o outro:
-- Não é que eu não saiba exatamente o que fazer, o problema é que não sei por onde começar.
Os executivos vivem hoje problema semelhante, quando sabem muito bem que precisam cuidar do desenvolvimento de suas equipes, do aperfeiçoamento de suas estruturas, da criação de estratégias inovadoras e da implantação de programas de melhoria das competências. Só não sabem por onde começar.


O problema
As respostas, técnicas e ferramentas já foram descritas por Deming, Juran, Ansoff, Porter, Drucker. O problema é: por que, depois de décadas destes gurus terem escrito seus livros, muitas organizações se debatem com o dilema dos pernilongos? A doença que estas empresas sofrem tem um nome: parálise. A paralisia que decorre de muita análise empacando o processo decisório: muita conversa e pouca ação.

Uma situação constrangedora de ser observada é uma reunião em uma empresa que sofre de parálise. É como estar jantando com um casal que acabou de ter uma briga doméstica. Debaixo das palavras doces e aveludadas saem as pontas dos alfinetes.

Um gerente reclama que a área de seu colega cometeu um erro que atrapalhou o seu trabalho; o outro contesta que nada pode fazer enquanto não for instalado o novo sistema computadorizado; o de sistemas se defende porque o financeiro não liberou a verba; este culpa a diretoria que não aprovou o orçamento do ano; os diretores dizem que nada podem fazer, pois ocupam todo o seu tempo resolvendo problemas que deveriam ter sido tratados pelos gerentes e não por eles.

Novamente enxurradas de reuniões e a conclusão de que a cultura da empresa não permite que se faça nada. Portanto, a primeira tentativa é mudar a cultura. Aprovam um cursinho de dois dias... e o ciclo vicioso recomeça.


A solução

Desculpe repetir: todo problema complexo tem sempre uma solução muito simples que invariavelmente não funciona. Não é simples quebrar o círculo vicioso. Depende de mudar a cultura, mudar os padrões de comportamento que são produto da ação presente e estímulos à ação posterior.

Esta conversa de antropólogo é fácil de explicar. Máquinas, sistemas, ativos financeiros não possuem comportamentos, isto é privilégio das pessoas. Mudar a cultura é mudar o jeito de como fazer as coisas. Agir sobre o trabalho prático das pessoas é a melhor maneira de estimular novas atitudes dos níveis operacionais e gerenciais em resposta aos desafios que as empresas enfrentam.

Se um condutor de um trenó tivesse vários cachorros correndo atrás de próprio rabo ele não os mataria instigado pelos que leram orelhas de livro sobre "meritocracia”, como se o emprego deles também não estivesse em jogo. Seria cômico se tentasse reunir seus colegas esquimós para discutir como conscientizar os cachorros. Provavelmente colocaria os cães na direção do caminho certo e iniciaria a caminhada.

A solução

A primeira e mais importante decisão é parar de correr em círculos. Alguém tem que tomar esta decisão, que não é necessariamente do presidente. Qualquer pessoa, em cargo de chefia ou não, pode começar a mudar a cultura mudando o seu próprio comportamento. Iniciar a caminhada. O importante é estar na direção certa. Tombos e problemas irão acontecer; a cada superação de obstáculos, mais forte e motivada será a equipe.

Escapar da parálise -  mudar! -   levará a empresa a melhor atender ao seu cliente; ter mais qualidade e, menor preço, mais valor nos produtos ou serviços. Para fazer isso, é preciso dar espaço para que os chefes se desenvolvam, e tenham poder. Teremos então gerentes com competência, autonomia, coragem, um líder e não um burocrata. Todos serão mais eficazes em uma estrutura ágil, descentralizada.

Começa. Isto é o mais importante. Nenhuma tarefa será desvinculada das outras. Não se privilegia uma, todas acontecem ao mesmo tempo. O competente uso da sinergia economizará tempo, dinheiro, fomentará a motivação e comprometimento das equipes.
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Saiba mais em Empreendedor Corporativo – Mário Donadio, DVD Commmit

Clavicémbalos

Existe um outro Mario Donadio. É um simpático construtor de um instrumento musical que leva um jeitão de cravo. Não sou eu. Embora adorasse tocar este instrumento. Aliás, qualquer instrumento.

Matemos o Vampiro 05 - KANT

Liberdrácula, como conhecem os leitores das quatro postagens anteriores da série Matemos o Vampiro – Touraine, Weber, Freud, Adam Smith e Nash –, é o sacerdote maior dos liberalóides que infectam a gestão das empresas, desumanizando o trabalho, transformando os gestores em vampiros, sugadores da energia uns dos outros, reduzindo pessoas a recursos exploráveis e descartáveis. Seu grande problema é a necessidade de manter o seu poder. Faz isso sustentando paradigmas amorais, que para serem aceitos pelos aldeões devem se disfarçar com máscaras de nomes aceitáveis: meritocracia, para competição desenfreada; compromisso com o castelo, para eliminação da vontade própria; foco no trabalho, para falta de qualidade de vida; disciplina, para submissão.

Emmanuel Kant – filósofo prussiano, viveu de 1724 a 1804 – é conhecido pela afirmação de que existe uma moral única que explica todas as outras obrigações morais: o Imperativo Categórico. Uma das expressões deste imperativo, que Kant denominou de Fórmula da Humanidade, afirma que as pessoas devem ser sempre a razão moral das ações; nunca meramente um meio para produzir resultados. Se este imperativo substituir os paradigmas vigentes, que colocam a produção do castelo como finalidade única, última e absoluta e as pessoas apenas recursos humanos para alcançar esta finalidade, Liberdrácula seria destronado. Os aldeões compreenderiam que o palavreado que lhes impingem não é a realidade objetiva, mas a representação de falsidades subjetivas que interessam aos vampiros.

Disse Kant – também interessado por Astronomia – que sobre ele havia um céu estrelado e dentro dele as estrelas da moral. Um dia os aldeões assumirão que podem agir de tal forma que cada uma de suas ações se torne um princípio moral da humanidade. Aldeões não precisam de falsos profetas, cada um pode compreender que toda reforma interior e toda mudança depende exclusivamente da aplicação obstinada de seu próprio esforço. Neste dia, Liberdrácula, junto com sua amoralidade e idéias exumadas do Século 18, tidas como de vanguarda nestes tempos liberalóides, voltará ao submundo de onde nunca deveria ter saído.