DUAS CRISES: EMPREGO E DESEMPENHO

Postagem de fevereiro de 2014 e ainda muito oportuna.
Vale a pena reler!

Projeções estatísticas apontam que em alguns meses, ou poucos anos, o ciclo do pleno emprego no Brasil dará lugar não à crise do desemprego, mas à normalidade na qual as empresas terão de ser mais rigorosas na seleção dos seus quadros, principalmente nos níveis de chefia. A lei da oferta e procura no mercado de trabalho fará com que só haja oportunidades para os mais competentes. Alguns ganharão, outros perderão, mas nada será como agora.

Segundo os macroindicadores da economia, ingressaram no mercado consumidor na última década cerca de trinta milhões de pessoas – a chamada classe média ascendente – e a renda das famílias também acompanhou o crescimento graças às políticas sociais do Governo. Tudo muito bom, mas o volume de produtos e serviços ofertados não acompanhou a demanda. Muito dinheiro na economia e poucos produtos e serviços disponíveis trazem dor de cabeça para os economistas, pois pressionam a inflação, aumentam as importações, complicam a balança de pagamento e a taxa de câmbio.  Situação mais complexa quando acrescentarmos os fatores da crise global e fenômenos sociais do Brasil.


Estes trinta milhões compram apartamentos, invadem os shoppings, trocam automóveis, lotam os aeroportos e restaurantes, congestionam as ruas, reclamam de mau atendimento, mas escolhem sempre pelo menor preço. Bonito, todavia as empresas não dão conta de atender a todos, o que somente seria possível com a melhoria da produtividade e investimentos com retorno em longo prazo. A estratégia foi produzir grandes volumes de produtos baratos e aumentar as vendas. Para tanto, contrataram quantos fosse possível para dar conta da produção, mesmo quando os salários exigidos não eram coerentes com a qualidade do desempenho. Aceitaram em seus quadros profissionais despreparados tecnicamente e os subordinaram a chefes sem qualificação e liderança. Isto derrubou a produtividade, aumentou a renda que aumentou a demanda... 

Estamos em plena crise de qualidade e produtividade cujas evidências aparecem em nível macro nas dificuldades das empresas em competir no mercado global e custos insuportáveis, mesmo para aquelas que são ilhas de competência. No cotidiano, as “falhas humanas”, operacionais ou de planejamento e gestão, provocam quedas de sistemas nos bancos, celulares que não funcionam, panes em trens e metrôs, semáforos apagados, construções que desabam, erros estúpidos de segurança em casas noturnas, filas nos aeroportos, extravio de bagagens, enfermeiras que aplicam medicamentos errados, interrupções na transmissão de energia elétrica; uma lista interminável.

Urge um choque de competência nas empresas, que virá de modo planejado ou quando esta situação, cuja equação não fecha, implodir devido às suas próprias contradições. Para o país não quebrar, as políticas macroeconômicas terão que trazer a inflação para níveis decentes, saúde fiscal nas contas públicas, balança comercial favorável e suas implicações no câmbio, garantir margens para investimentos estruturais e – ainda que cruel – rebaixar o ritmo de geração de empregos e, consequentemente, a massa salarial do país. Profissionais mais técnicos e gestores mais qualificados não terão redução dos seus ganhos, que serão diretamente proporcionais ao seu desempenho. Haverá mudança no perfil dos consumidores, em menor número e mais seletivos. Não aceitarão qualquer produto a qualquer preço. 

Sobreviverão empregados os mais preparados em termos técnicos e os gestores mais capazes em liderar uma força de trabalho mais qualificada. Se as empresas terão que se antecipar às novas condições; cada profissional também terá que investir pessoalmente na sua empregabilidade, que dependerá de sua competência.  Não haverá mais tolerância quanto a aceitar, por falta de alternativa, baixas qualificações e desempenhos medíocres . As reivindicações salariais serão negociadas com menor flexibilidade. Os sindicatos terão que se adaptar para lutar por garantia de emprego e, se forem estratégicos, capacitação de seus associados. 

Os gestores serão exigidos e cobrados pelo cumprimento de suas metas vinculadas aos objetivos estratégicos da empresa. Resultados financeiros, satisfação dos clientes, qualidade dos processos, inovação e criatividade serão entregas evidentes por si mesmas. Entretanto, os novos desafios das empresas para serem competitivas em mercados menores e mais exigentes as levarão a valorizar gestores capazes de maximizar o desempenho de seus subordinados e equipes. Cumprir metas será uma parte dos resultados esperados de um gestor. Porém, será deles a responsabilidade de deflagrar o choque de competência, contratando resultados, avaliando desempenhos, descobrindo potenciais e liderando processos de desenvolvimento. 

2 comentários:

  1. Acho que a única forma do Brasil ter um final feliz nessa história é que as coisas tomem o rumo que você descreveu. Vejo alguns profissionais estrangeiros sendo contratados, já que não se encontra o perfil no país. E tem muito europeu doido para vir para cá, que está com a condição de emprego muito melhor do que lá. Aqui no meu trabalho já são 9 os funcionários estrangeiros.
    Se não for melhorando seus processos produtivos e sua mão-de-obra, às indústrias brasileiras só resta contar com dólar alto, para barrar as compras nos EUA e China.

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    1. Por partes: não acredito que o Brasil vire uma Argentina; as empresas, por bem ou por mal, vão ter que fazer alguma coisa ou então irão à falência. O que acontece é que tem muito executivo com salários não coerentes com suas "entregas" e que dormem não percebendo os riscos que correm. Nos cargos operacionais também, muitos técnicos e administrativos que não se aperfeiçoarem perderão seus empregos.

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