MANDELA, PODER E LIDERANÇA

Que líder era Mandela, qual a fonte de seu poder? Sobreviveu às adversidades de ser pobre e negro em um ambiente onde não apenas os preconceitos, mas também as leis eram discriminatórias e sob a tirania de governantes racistas e violentos. Vinte e sete anos preso, manteve um grupo de liderados unido em torno da visão de que seres humanos têm o mesmo direito seja qual for a sua cor e que era possível unir uma nação.  Só um líder de sua envergadura poderia desarmar outro tipo de preconceito tão odioso quanto o anterior, uma forma de racismo contra a minoria branca. Nesta semana, brancos e negros, presidentes e líderes mundiais ajoelham-se diante dele que, mesmo morto, conquista seguidores.

Se as pessoas já nascem líderes, se a vida as ensina as serem líderes, ou se as circunstâncias de suas trajetórias as obrigam a ser líderes é tema controverso. O fato é que algumas pessoas desenvolvem suas competências emocionais e as aplicam de forma a produzir resultados através de seguidores.
  • Conhecia suas emoções, seus limites e tinha domínio de si mesmo. Superou décadas de prisão, muitas vezes isolado de todos. Escrevia, meditava, se autoconhecia. Um processo doloroso, mas fortalecedor do seu eu e que impediu a destruição de sua personalidade, como provavelmente queriam aqueles que o condenaram.
  • Tinha autodisciplina para controlar suas emoções. Na prisão, mesmo humilhado pelos regulamentos impostos, conservou-se íntegro e paciente. Mantinha conversas com seus carcereiros e lentamente os conquistava.  
  • Persistia na perseguição de sua visão, mesmo quando tudo parecia desmoronar à sua volta: a violência dos governantes, a morte de companheiros e sua condenação á prisão perpétua. Acreditava da validade de sua visão e na pregação da forma de luta que a história comprovou ser a mais correta.
  • Tinha empatia para compreender as emoções de seus liderados sedentos de vingança; colocar-se no lugar deles e obter comportamentos colaborativos quando assumiu a presidência.  Teve a ousadia de manter na sua equipe de segurança as mesmas pessoas que antes o caçavam. Usou dessa empatia para conseguir que os grupos antes inimigos trabalhassem integrados, uns por comunhão de valores, outros por respeito à hierarquia.
  • Era capaz de  estabelecer e criar relações. Habilidade social é navegar no mar revolto das interrelações de forças e interesses, alguns conflitantes outros complementares, em jogos ganha-ganha. Mandela não lidava com os adversários como se fossem aliados, mas tecia relações construtivas para que prosperassem acordos na direção de sua visão. Pode-se imaginar a enorme teia de pactos recíprocos, inclusive com compromissos de lideranças internacionais para que fosse libertado, pregar suas ideias, vencesse uma eleição e pudesse tomar posse.
 O bom político sabe que não poderá ganhar tudo o que quer nos acordos. Terá que fazer concessões, terá que avançar e recuar. Seja um estadista, um presidente de empresa ou um simples gerente. Poderá impor sua vontade através da tirania ou inspirar seguidores livres dispostos a caminhar na mesma direção. Liderados não são obedientes, liderados são cúmplices de uma visão; abandonarão a bandeira caso deixem de acreditar na validade dos princípios onde está hasteada. Pode ceder muito nos acordos que viabilizam a conquista dos objetivos, menos abandonar os princípios morais.
  • Contratar com seus liderados quais compromissos recíprocos com a visão, missão, valores que deverão sustentar a aliança. Mandela conseguiu alcançar seus ideais porque cada um de sua equipe sabia exatamente o que esperar de seu líder e este somente acolhia em seus quadros colaboradores que concordavam livremente com este contrato empreendedor.
  • Compartilhar Interesses vinculados aos compromissos e valores. Ninguém na equipe de Mandela esperava ser premiado por critérios de produtividade e meritocracia medidos por tabelas cabalísticas ou ser promovido para cargos mais altos em uma escalada na carreira. A grande recompensa de cada um era constatar o quanto seu esforço levava ao sucesso da equipe.
  • Manter relações honestas e francas entre os colaboradores. Quando o contrato lider-liderado e os interesses estão vinculados à visão e o líder é coerente com estes princípios, não há espaço para jogos manipulativos e são estimuladas a troca aberta de informações e assertividade. Não há ambiente para comportamentos submissos e medo de contrariar os superiores.
  • Estimular equipes autônomas e corajosas que não esperam ordens para agir, responsáveis e comprometidas, assumindo as consequências dos seus próprios atos e decisões; capazes de criar e inovar sem que se sintam obrigadas a prestar contas por fazer o que deveria ter sido feito.

A visão de Mandela era libertar um povo e unir uma nação.  O uso do poder e liderança dos gestores nas empresas se aplicam modestamente a conseguir que seus subordinados produzam resultados financeiros, vendam mais, errem menos nos processos e sejam capazes de ter ideias criativas e inovadoras. Nas poucas linhas de um blog, o propósito não foi o de listar receitas aos gestores e muito menos recomendar que sigam o mesmo caminho de Mandela; porem, identificar na sua biografia exemplos do que os pesquisadores descrevem na literatura sobre liderança. Quem sabe aprender um pouco o que é ser líder.
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Para conceitos, casos, exemplos, bibliografia sobre poder e inteligência emocional consulte DONADIO, MÁRIO - Chefiar, simples assim!...  / Qualitymark. Capítulos: Inteligência e competência emocional, páginas 25 a 32 e Tempo, delegação e empowerment, páginas 119 a 129. 

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