AFINAL, PARA QUE SERVEM VISÃO, MISSÃO E VALORES?

Nos corredores e pendurados atrás de mesas de chefes nas empresas há quadrinhos com frases ditas “motivadoras” descrevendo o que seriam a visão, missão e valores. Nada errado; sabe-se que empresas visionárias são empresas vencedoras. O problema é se o que está escrito nos cartazes tem a ver ou não com o que a empresa entende como sua razão de ser, quais as entregas que se propõe para agregar valor aos seus clientes e de que forma seus executivos aplicam os valores na sua gestão.
Uma das provocações que eu gosto de fazer nos workshops que conduzo sobre liderança é pedir que os gestores presentes me digam qual é a visão da empresa. Mal e mal gaguejam alguma coisa e, se o pedido é sobre a missão, recitam palavras vazias. Os valores, se fossem levados a sério, deveriam orientar todas as avaliações e decisões vinculadas às atitudes dos subordinados. Sempre provoco risadas, pois raros os conhecem; pior, se forem capazes de mencioná-los, não conseguem associá-los a comportamentos observáveis nas suas equipes.

Folheando uma revista na sala de espera de um cliente encontrei um anúncio de uma empresa fabricante de armas. Pegaria muito mal dizer: “Matar com eficiência de um jeito mais barato”; portanto, informavam que sua missão era “Garantir a paz mundial e contribuir para a harmonia entre os povos”. Aqui entre nós, esta declaração poderia de verdade orientar o planejamento e as ações estratégicas de seus dirigentes? Por trás da foto de um diretor de recursos humanos sendo entrevistado sobre as demissões em massa que sua empresa estava promovendo podia-se, com um pouco de esforço, ler em um quadrinho dois dos valores da empresa: “máximo respeito ao ser humano” e “máxima satisfação dos colaboradores”. Triste e irônico. Nenhuma empresa aérea teria coragem de pregar nas suas paredes algo assim: “comprimir nossos custos, reduzindo nossa qualidade ao mínimo suportado pelos passageiros, de forma a obter o máximo de lucro em nossas operações”. Entretanto, é assim que seus executivos e pilotos são exigidos, não importa o que divulgam nas revistas de bordo que, por enquanto, ainda não são cobradas.

As coisas ficam mais complicadas quando todos fingem que o que está escrito nos quadrinhos é para valer. Então se montam as grades de avaliação de desempenho, que também ninguém leva a sério, pois não refletem o que a empresa quer mesmo de seus executivos e empregados. Na maioria das vezes, estas declarações estratégicas refletem um instante de pureza – para não dizer moralidade – dos dirigentes participantes dos workshops onde são definidas.  Podem expressar um desejo mais de “como queremos que nos vejam” e menos de “o que queremos ser”. Os valores de um modo geral correspondem a uma ética universal e são irrepreensíveis. Vamos partir de uma hipótese benevolente de que, se pudessem, em um mundo de paz e amor, assim gostariam que sua empresa fosse. Portanto, o desafio é impregnar a empresa destes valores, levá-la à sua visão, fazer que cumpra sua missão. Esta transformação depende da vontade dos detentores de poder na alta administração para que, mesmo diante da crueza da realidade dos negócios, haja inspiração para a ética e perseguição de conquistas mais nobres.

A empresa é uma figura abstrata; o concreto são seus resultados financeiros, vendas, inteligência dos processos e qualificação dos técnicos. Para eles é que está voltado o “instinto animal” dos empresários como elogiava Adam Smith ainda em 1776. Porém, podemos desenvolver o “instinto humano” ensinando nossos executivos a conseguir de seus subordinados e equipes o melhor para a empresa – para isso eles ganham seus salários – mas que olhem os quadrinhos na parede não como enfeites tão inúteis como os vasos com plantas de plástico da sala de espera, mas guias de ações éticas nas relações com suas equipes, orientadas para a máxima entrega de valor aos seus clientes. 

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