Matemos o Vampiro 04 - Adam Smith e John F. Nash

A competição desenfreada, o cada um pensar em si mesmo é o recurso mais eficiente para que o castelo funcione com o máximo de produtividade sem problemas de disciplina e contestação do poder absoluto de Liberdrácula (que sabemos ser o líder dos vampiros contaminados pelos valores liberalóides). O problema do grande bruxo é saber que somente o fazer junto, a integração dos esforços e as práticas de solidariedade são capazes de agregar valor ao trabalho realizado, mas precisa ao mesmo tempo dividir para governar, Não falta esperteza ao Vampiro-mor; ele é hábil com as palavras: chama de meritocracia o estímulo à competição predatória, de modernidade os padrões administrativos pré-revolução industrial e consegue a mágica de chamar ganância de esfoço coletivo. Ele, que retirou a alma dos habitantes do seu castelo, conhece bem a natureza dos ex-humanos. Sabe que somente uma crença religiosa fanática os manteria obedientes, sem crítica e cordatos. Precisava apenas de um deus e de um profeta. Os desenterrou das catacumbas das ideologias mortas e os colocou assombrando modelos e teorias que influenciam o modo de pensar de muitos que se denominam “de vanguarda administrativa"

Adam Smith – economista escocês, falecido em 1790 – pregava o evangelho de que a economia é a essência da sociedade e que se cada um lutar egoisticamente para garantir tudo o que for vantagem para si, os mais qualificados terão  melhor pedaço do bolo, por direito de sua maior competência; aos mais fracos, o degredo do downsizing.  No castelo, esta seleção natural levaria à procriação somente dos melhores vampiros fiéis à doutrina e submetidos a Liberdrácula. Mas não bastava. Muitos, ainda não totalmente dominados, poderiam questionar: qual a lógica em se propor a máxima competição para obter a máxima cooperação que o castelo precisa para destruir os concorrentes? Toda religião precisa de um deus. Adam Smith o criou à sua imagem e semelhança: ele se chama Mão Invisível do Mercado e está no céu, nas bolsas de valores e nas doutrinas de gestão das empresas e em toda parte. É o operador social, que organiza tudo e, como todo deus, não pode ser questionado ou combatido.


John F. Nash – prêmio Nobel de economia em 1994, e uma coleção de prêmios internacionais, gênio em sua área – contestou  Adam Smith propondo a máxima lógica de que a cooperação não é uma postura ingênua, mas sim a mais inteligente, pois além dos ganhos individuais da pessoa proporciona o ganho coletivo. “Se todos fizerem o melhor para si e para os outros, todos ganham”.  Liberdrácula não o teme, tem seguidores até entre os aldeões mais ingênuos; conseguiu torcer o sentido das palavras: idéias velhas do Século 16 são divulgadas como vanguarda; idéias atuais, e provadas como superiores são chamadas de velhas. No castelo é pecado mortal – ainda que todos já estejam mortos - tomar em vão o santo nome do deus Mão Invisível e seu sacerdote, Liberdrácula, sempre com seus caninos à mostra, aumenta cada dia seu poder pois agora, até na periferia do castelo, e já surgem patrulhas da vanguarda do atraso.

Um comentário:

  1. Bacana o texto, a partir dele entrei em contato com o livro Hitler Ganhou a Guerra, escrito por Walter Graziano, comecei a ler e estou curtindo muito.

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