BARBIE, O PEQUENO PRINCIPE DO CONSUMISMO

 

Era uma vez - no tempo em que as crianças pensavam – um pequeno príncipe que se apaixonou por uma rosa que o desprezava, conheceu uma raposa sábia, foi picado por uma cobra e morreu; e, desde então, foi responsável por todos aqueles a quem cativou, pois o essencial é invisível para os olhos.  As louras, longilíneas, desde que não tivessem “duas polegadas a mais nos quadris”, como a nossa linda Marta Rocha, subiam ao palco do concurso de Miss Universo e deviam dar respostas sobre a paz mundial e outros temas relevantes. A vítima era o Pequeno Príncipe – coitado! – elas o citando fazendo biquinho com frases que os palestrantes de auto ajuda de hoje pregam sem a graça do biquinho: “seja você mesmo; sonhe grande...” e por aí vai.

Saint-Exupéry – nesta  cultura de WhatsApp a gente sempre tem que explicar tudo – é o brilhante autor da história do principezinho. Nestes tempos de consumismo como valor máximo ele foi substituido pelo culto da Barbie; ela também loira e longilínea, cuja grande virtude era não falar. Entretanto, hoje, ela fala pela boca dos homens de marketing;  ao invés de as meninas brincarem com bonecas com corpo e cara de bebês, que as preparavam para ser mães, brincam com bonecas que as doutrinam para ser consumidoras. 

Nas longas filas nas portas dos cinemas e caminhando nos corredores dos shoppings com as vitrines das lojas cheias de produtos barbies, pais e mães envergonhados ou não desfilam de rosa. Depois, tais quais as misses, dão palpites pelo que imaginam ter visto no filme e que pensam serem frases  inteligentes sobre empoderamento feminino, diversidade, inclusão. Seja de qualquer etnia ou profissão, a boneca Barbie ainda representa a ideologia da aparência, posse de bens, meritocracia e individualismo. 

Só para provocar: por que não existe a Barbie pobre, a moradora de rua, a operária, a escriturária assediada no metrô e, por que não, uma líder sindical? A alvar opinião dos que enxergam virtude na onda barbie é que a mulher só será livre quando conquistar o direito de ter um guarda roupa cor-de-rosa e um carro conversível, cabelos ao vento ao lado de um namorado paspalho.

Dentro do perímetro restrito das subjetividades consumistas temos de confessar o brilhantismo da jogada dos fabricantes da boneca – aliás uma empresa dirigida por executivos homens. Estão vendendo aos milhares explorando tendências socias emergentes, como “a verdadeira essência da mulher e igualdade de gênero” , mas sem o compromisso genuíno com estas questões.

Parodiando o dialeto marketeiro, Barbie mudou  apenas a embalagem, porém o produto é o mesmo. Por exemplo: houve mudanças na própria  empresa fabricante? Na cultura, nas práticas de fabricação, nas relações com os empregados e empregadas, na distribuição dos lucros? O fenômeno rosa serve apenas a mais lucro da empresa, não tem compromisso real com as causas trabalhistas, feministas ou com as mudanças na sociedade. 

Melhor voltar a ouvir as misses citando Pequeno Príncipe; pelo menos era melhor assisti-las com suas lindas bocas fazendo biquinho do que a jornalistas carecas destilando pseudofilosofias.

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Leiam também BARBIE E AS GALINHAS:  https://mariodonadio.blogspot.com/2023/09/barbie-e-as-galinhas.html a continuação da novela da Barbie.


13 comentários:

  1. Caro Mário, antigamente o marketing da Barbie usava as mídias visuais televisivas , eles conseguiram criar um suspense e gerar uma série de questionamentos fortes nas redes sociais polarizadas. Conseguiram conversar com os dois lados . Seu comentário me parece o mais próximo das intenções de quem investiu neste filme .

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    1. Oi. Muito obrigado. Devo me preocupar? : - )

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  2. Maravilha de análise. É conveniente para o poder, de qualquer natureza, política, econômica, etc., a infantilizacao dos comportamentos coletivos. A indústria da diversão está atenta às oportunidades. Estão aí Marvels e Barbies que não me deixam mentir.

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  3. Muito obrigado. Tenho recebido algumas "pancadas" pela postagem. Avalio que toquei em algum nervo exposto. O que muitos não percebem é que não se trata da qualidade do filme, embora eu prefira "A Fuga Das Galinhas", mas da repercussão que está tendo; na forma e no conteúdo. Vide "aparelhos ideológicos etc. " Obrigado de novo.

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    1. A infantilização de condutas sociais refere-se ao fenômeno em que comportamentos, atitudes e formas de expressão que são considerados imaturos, ingênuos ou próprios de crianças são adotados por adultos em contextos sociais. Essa infantilização pode ser impulsionada por várias razões e fatores, incluindo:

      Cultura Pop e Mídia: A cultura pop e a mídia muitas vezes promovem a ideia de que a juventude é desejável e que a maturidade ou a seriedade são indesejáveis. Isso pode levar as pessoas a adotarem comportamentos infantis como forma de parecerem mais jovens ou descontraídas.

      Pressões Sociais e Estresse: A vida adulta muitas vezes traz responsabilidades, estresse e pressões. Para escapar temporariamente desses desafios, algumas pessoas podem recorrer a comportamentos infantis como uma forma de aliviar o estresse ou esquecer momentaneamente as preocupações.

      Nostalgia e Sentimento de Nostalgia: A nostalgia é um sentimento poderoso que pode fazer com que as pessoas queiram reviver ou imitar momentos de suas infâncias. Isso pode levar a uma adoção de comportamentos infantis como uma forma de reconectar-se com essa fase da vida.

      Cultura da Gratificação Instantânea: A cultura moderna muitas vezes valoriza a gratificação instantânea e a busca do prazer imediato. Isso pode levar as pessoas a escolherem atividades e comportamentos que proporcionam satisfação imediata, mesmo que sejam mais associados a crianças.

      Falta de Habilidades de Enfrentamento: Alguns adultos podem ter dificuldade em lidar com situações desafiadoras ou emocionalmente exigentes. Comportamentos infantis podem ser usados como mecanismo de enfrentamento para evitar lidar diretamente com esses problemas.

      Busca por Atenção e Validade: Em alguns casos, comportamentos infantis podem atrair atenção e validação dos outros. As pessoas podem adotar esses comportamentos como uma forma de se destacarem ou obterem apoio emocional.

      Ambiente Social e Influência de Pares: O ambiente social em que uma pessoa está inserida e a influência de amigos e colegas também podem desempenhar um papel. Se um grupo social valoriza comportamentos infantis, os indivíduos podem sentir pressão para adotá-los.

      Desconexão com a Maturidade: Alguns adultos podem sentir que a maturidade é associada a responsabilidades e compromissos indesejados. Eles podem resistir a essa ideia e preferir adotar comportamentos mais infantis como uma forma de evitar essas responsabilidades.

      É importante observar que a infantilização de condutas sociais nem sempre é negativa. Algumas formas leves de expressão infantil podem trazer alegria, diversão e leveza à vida adulta. No entanto, quando esses comportamentos se tornam predominantes e afetam negativamente a capacidade de uma pessoa de funcionar de maneira saudável e responsável na sociedade, pode ser útil buscar um equilíbrio entre a expressão infantil e a maturidade.




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  4. Preciso ler com mais cuidado. O texto é muito legal e acho que concordo com ele. Estou tendo dificuldade em relacioná-lo com minhas críticas sobre as leituras reducionistas que a mídia faz - e aceitas por muita gente boa - da "onda rosa" e a boneca. De qualquer forma, muito obrigado.

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    1. é sobre infantilizacao de condutas de grupos, o que motiva

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    2. na verdade o texto se refere apenas a reação coletiva, quando seu artigo é muito mais amplo, e fala da bandeira feminista que o filme se propôs a lançar

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  5. Vamos lá. Primeiro de tudo eu agradeço os comentários. Faz tempo que uma postagem minha não repercute tanto.
    Há de fato uma questão que vale a pena discutir. Por que tanto barulho ? Até eu entrei na onda rosa, quem diria... Primeiro a qualidade do filme. É tão bom, ou tão mau quanto um swr um novo desenho animado bem feito. Ainda prefiro a FUGA DAS GALINHAS (Explico adiante). O fato real é a inteligente jogada de marketing. Remoçaram um produto velho e, por conseguiram fazer que acreditassem se tratar de um Novo Manifesto, só que não comunistas, mas sim consumista. As vendas da boneca magricela aumentam fantasticamente.
    Sobre a Fuga das Galinhas resolvi escrever um outro blog, quem sabe sobre uma abordagem dialética utilizando a metodologia do materialismo histórico.
    !?É brincadeira pessoal...

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  6. Achava que seu texto era exagerado, mas vi hoje que está programado um BBB de pessoas que estarão cuidando de decorar uma "casa da barbie". O sr. foi meu professor no Mackenzie; como sempre, está com razão: são umas antas com dois pares de tênis.
    Estou aguardando ansiosa a crítica segundo o materialismo histórico da Fuga Das Galinhas

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  7. Atendendo a pedidos... Não percam minha nova provocação: Barbie e as Galinhas.

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  8. NÃO DEIXE DE LER: https://mariodonadio.blogspot.com/2023/09/barbie-e-as-galinhas.html

    https://www.linkedin.com/pulse/barbie-e-galinhas-mario-donadio

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