AS VIÚVAS DE TAYLOR E A CRISE GLOBAL


Entre computadores de última geração, em salas de reuniões bem decoradas, estão sendo discutidas as melhores estratégias para dotar a empresa de vantagem competitiva frente aos desafios da globalização. Ouvidos mais atentos poderão captar o arrastar das correntes do fantasma de Taylor, mal assombrando os arremedos de propostas de meritocracia e empowered, mas com soluções que degradam as pessoas ao nível de arruelas pouco importantes na máquina produtiva.

Institutos internacionais respeitáveis alertam que se deve reduzir em escala mundial o desemprego, mesmo nos países industrializados, antes que as estruturas econômicas sejam abaladas pelo alto custo social que representa. 

Assustam a Europa os trabalhadores nômades, muitas vezes técnicos especializados, vagando de país a país vítimas da redução dos prazos dos contratos de trabalhos e ausência de garantia de continuidade de emprego.

Ninguém ignora que somente quem estiver pronto para entregar produtos e serviços personalizados, a preços cada vez menores, terá chances nos mercados com exigências sempre maiores. Portanto, ter empresas enxutas e flexíveis é a única escolha. O erro está em imaginar que o único caminho é o cortes de pessoal e outras medidas que pareceriam corretas se não estivessem isoladas de decisões gerenciais mais complexas, capazes de dar as respostas que o novo mundo dos negócios exige.


Cortando cabeças
Uma velha piada de consultores conta que o filho de um industrial, ao ser indagado se ia tudo bem na empresa que herdara, respondeu: "a única coisa que me atrapalha, para que eu tenha sucesso, são as pessoas!" 

O que muitos imaginam ser programas de eficiência estratégica, muitas vezes não passa de um espanar na poeira das velhas idéias que Taylor pregava no começo do século passado, escondidas no fundo dos armários por executivos envergonhados de aplicá-las, mas saudosos do tempo em que se livrar das pessoas era o melhor caminho para resolver problemas de produtividade.

A enorme crise social que organismos internacionais estão apontando para os próximos anos poderá ser resolvida através de medidas governamentais que geralmente se resumem na criação de mais regulamentação restritiva e aumento de impostos. O outro caminho está nas próprias empresas.

As viúvas de Taylor devem ser neutralizadas e os empregados tratados sem paternalismo. Entretanto, é um desperdício destruir valores e talentos cultivados na empresa, jogar no chão da fábrica o clima e a motivação em troca de economia de uns poucos por cento do faturamento.  O mesmo resultado poderia ser obtido por melhorias nos processos, mais qualidade nas vendas, estímulo à criatividade, mais serviços aos clientes.

A estratégia para o aumento da produtividade, quando pensamos nas pessoas como oportunidades não como ameaças, está em aumentar sua capacidade de agregar valor aos produtos e serviços e não em cortar suas cabeças para reduzir as despesas.

Administração Estratégica
Quando levantamos os olhos das planilhas de custos somos capazes de ver a empresa de verdade batalhando em seu mercado: há uma complexa atividade tentando maximizar os aparentemente incompatíveis desejos dos acionistas por melhores resultados, dos clientes por mais diferenciação e menor preço e dos empregados por melhor qualidade de vida. 

A liderança estratégica exige agora que empresas de sucesso considerem o impacto de suas decisões no delicado equilíbrio social, não apenas no mercado onde atua, mas no contexto do país e do mundo.

É verdade que muitos trabalhadores, executivos inclusive, foram atropelados pelas exigências de maior capacitação profissional e que a empresa não tem alternativa que não seja privilegiar os mais capazes. O que não se pode é tratar como sucata os que sobraram, ou deixá-los por conta de programas assistenciais do governo, que ao final acabarão sendo pagos pelas próprias empresas.

Não se pode também cruzar os braços, deixando de tomar decisões hoje que poderão nos livrar daqui a alguns anos de estarmos diante de mais uma lista de cortes. Ou pior, relacionados em uma delas.

Os líderes, com a mesma força que em poucos anos reorientaram suas organizações para melhor atender o consumidor, precisam estimular reformas em suas políticas de recursos humanos, dando mais atenção à construção de visão, valores, cultura, dignidade das pessoas e tomar para si a responsabilidade de promover a educação e reciclagem de seus quadros. Não apenas através dos tradicionais programas de treinamento, porém tornando a empresa inteira um espaço de criação do saber, aprendizagem e desenvolvimento.

O líder deverá ser cada vez mais um estadista estratégico, pois não basta que sua empresa tenha vantagem competitiva sobre as demais se isto comprometer o ganho coletivo. Na ponta de todo o processo produtivo está quem deve, de fato, ser o beneficiado final: a sociedade e, no limite, o ser humano.

Um comentário:

  1. Prezado Mário, parabéns pelo artigo. Reflexões importantes. O trecho "..saudosos do tempo em que se livrar das pessoas era o melhor caminho para resolver problemas de produtividade" descreve bem um clube de executivos (?) que, infelizmente, ainda tem muitos sócios. Abraços, Ricardo F Coelho

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