Matemos o Vampiro 03-FREUD

Sexo é coisa muito diferente do que nós entendemos quando praticado nos domínios de Liberdrácula. Nada de mãos atrevidas, gemidos e corpos se misturando. Machos e fêmeas sabem que sua imortalidade é uma competição irreconciliável, uma luta em busca do máximo desempenho dos indivíduos, dos grupos e das organizações. Ainda que olhem comprido para as pernas da secretária ou para o bíceps do entregador de água mineral, suas libidos foram torcidas. A metade humana os impulsiona para Eros, que os retornaria à vida, mas a outra metade pertence a Thánatos, deus da morte que os acorrenta na carreira . O bem não importa, interessa o que é útil; a satisfação pessoal deve sempre ser deixada para um dia, no futuro que não chegará. Vampiros não têm sexo, têm cargos; não fazem amor, exibem desempenho; não conquistam amantes, viabilizam interesses; não têm amigos, desenvolvem networks;  não têm orgasmos, cumprem metas.

Vamos pensar realisticamente é o que mais se ouve nas reuniões das torres. Freud – psicanalista austríaco – explica: nos porões, os vampiros se debatem entre dilemas: “ser criativo e obediente”; “respeitar os aldeões e explorá-los”; “encantar o cliente e lucrar o máximo”; “ser mãe exemplar e gerente que não falha”. Nestes conflitos, as virtudes vampirescas (veja Blog 2-Weber) dão as regras morais, mas fica a ansiedade e a culpa, seja qual for a decisão tomada. A vantagem competitiva da empresa pós moderna é mantida pela repressão da vontade de seus executivos. A energia sexual tem que explodir de qualquer forma, então é canalizada para mais trabalho, mais resultados, mais agressividade na competição.

Sufocar seus desejos e submeter-se à realidade do castelo é o caminho único para ser um vampiro vencedor. Realizam-se sexualmente nas fantasias onde são cavaleiros andantes das florestas e montanhas da globalização, lutando contra dragões da concorrência, sitiando castelos inimigos e dando a vida pela logomarca da empresa, como se fossem guerreiros honrando o estandarte de sua nação.  Quanto ao sexo, aquele que nós todos conhecemos, eles o desempenham com a perfeição de executivos eficientes: enérgicos, rápidos e sempre entre si, para que o clímax propicie uma vantagem qualquer. Enquanto se ocupam do jogo de  competir e burlar uns aos outros, seus parceiros e parceiras humanos não se queixam, pois encontram fora do castelo aldeões e aldeãs que ainda sabem amar se entregando ao desejo, sem exibicionismo, pelo prazer, sem pressa nem ansiedade. Liberdrácula sorri feliz, as pontas dos caninos emergindo dos lábios; seu poder é cada vez maior. 

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